Estrelas Não há zangas na despedida. As palavras de Sérgio Conceição no adeus a Jorge Costa, o amigo de uma vida

Há muito que unia Sérgio Conceição e Jorge Costa: homens de uma garra incansável dentro de campo, mas que, fora, foram frequentemente elogiados pelo seu companheirismo e capacidade de entreajuda. É, por isso, pouco surpreendente que os dois tenham partilhado uma amizade de longa data, que começou no futebol e foi levada para a vida.

Estiveram 85 vezes juntos em campo, entre FC Porto, Seleção Nacional e uma passagem pelo Standard de Liège – que só foi possível pela insistência de Conceição em ter o amigo junto com ele neste projeto na Bélgica, o último enquanto futebolista para o 'Bicho' – nessas, viveram toda a amplitude de emoções que o desporto pode providenciar.  

Apesar de tudo, um pequeno desentendimento, gerado por uma mensagem, deixou uma mazela neste elo entre Sérgio Conceição e Jorge Costa, como o primeiro admitira numa conferência de imprensa, corria o ano de 2023, ano em que pisaram pela última vez o mesmo relvado, quando se defrontaram por duas ocasiões enquanto treinadores de FC Porto e Académico de Viseu, respetivamente.

No turbilhão que marcou o quotidiano portista recentemente, estiveram de lados opostos da barricada: Sérgio foi um fiel apoiante de Pinto da Costa, Jorge Costa acreditava que o futuro deveria passar por uma alternativa e por isso juntou-se ao plano de André Villas-Boas, que lhe permitiu partir deste mundo envergando as cores do clube que sempre amou e em cuja História terá o nome eternamente inscrito.

Estes caminhos distintos, todavia, não apagaram aquela que foi a vivência comum de ambos, se é que qualquer desunião não terá ela própria desvanecido nos derradeiros tempos em que os dois conviveram sob o mesmo Sol. Refira-se que, em 2021, à 'Tribuna Expresso', Jorge Costa não teve dúvidas quando foi inquirido sobre qual era o melhor amigo que o desporto-rei lhe dera: "A minha resposta é básica, até parece que está na moda agora, mas foi o Sérgio Conceição. Foi e é o Sérgio Conceição. (...) O Sérgio é o meu melhor amigo, isto quer dizer que o conheço muito bem. Conheço o Sérgio, conheço a sua família há muitos anos e uma coisa garanto: o Sérgio não vai mudar. O Sérgio é das pessoas com melhor coração. Muito competitivo. É este o Sérgio e por isso é que ele desperta paixões e ódios. Mas conhecendo-o como o conheço não tenho problemas em dizer que o Sérgio é dos melhores seres humanos que eu conheço."

Sérgio Conceição não foi célere a endereçar a sua mensagem de despedida – terá sido dos últimos nomes indissociáveis da história azul e branca a fazê-lo até – mas, segundo foi revelado pela RTP3, tal deveu-se à dor imensa que sentia pela perda do seu grande amigo e não a qualquer querela do passado, hoje um minúsculo ponto no caminho terrestre que juntos trilharam. Acabou por fazê-lo, na noite desta terça-feira, através das suas redes sociais.

"Fizemo-nos homens mais depressa, prescindimos dos devaneios de juventude para cumprir o sonho de sermos profissionais de futebol. Caminhamos juntos no FC Porto, no Standard Liège, na seleção, conquistamos títulos, partilhamos a fúria pela vitória, nos jogos, nos treinos. Rimos muito, choramos às vezes, e assim se construiu uma amizade para a vida", começou por escrever, numa publicação à qual agregou fotografias de diversos momentos que partilharam.

"E sim, também foste o maior amigo que tive no futebol e quem contigo privou sabe que do teu coração brotava tanta bondade como vontade de ganhar", acrescentou, em referência às palavras de Jorge Costa acima citadas, antes de concretizar: "Descansa em paz, Jorge, és e serás sempre o Bicho, o capitão que nunca se rendeu."