Vicente Gil, ator de 'Vitória', falou, no programa 'Alta Definição', da SIC, sobre a sua realidade enquanto cigano em Portugal, deixando ainda uma análise acerca da fase que a sociedade em geral atravessa.

Questionado por Daniel Oliveira sobre o que há a fazer numa sociedade "polarizada e intolerante" como a atual, o artista, que sempre se mostrou orgulhoso por pertencer à comunidade, refere: "A sociedade está num ponto de rutura sobre a informação e a verdade muito perigoso e fragilizante, damos por nós a acreditar em coisas muito parvas. Nestas ideias de raça, etnia e comunidade, é bom as pessoas questionarem o que ouvem e o que veem. Mas é uma coisa muito difícil e acho que são preciso ferramentas maiores do que isso e preciso serem aplicadas nas escolas e nos governos. Que possamos pelo menos no dia-a-dia fazer esse trabalho."

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De seguida, o apresentador inquiriu Vicente Gil sobre a sua opinião em relação a determinadas tradições e o artista não se coibiu de admitir que condena algumas delas: "É um dos assuntos fraturantes e sensíveis. Como cigano, há uma manifestação de certas tradições com as quais eu não concordo e sou completamente contra. Como cidadão, acima de tudo, como uma pessoa que acredita em democracia, verdade e saúde."

Ainda assim, o ator de 24 anos assegura que é uma mudança que já está a ser operada nas comunidades ciganas: "Não tenho problema de dizer isto publicamente, mas há uma necessidade grande de perceber que há coisas que já estão a mudar nas comunidades ciganas, que já não existem com tanta frequência, como o casamento com menores e o casamento prometido e forçado. Sinto-me feliz porque é uma evolução cultural e social para as nossas comunidades ciganas."

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Por isso, afirma: "Acho que para entender uma cultura, é muito importante entender a sua história. A maior parte dos preconceitos que existem para com os ciganos é muito sobre entender qual o ponto de partida, o que aconteceu até aos dias de hoje, porque é que são tão segregados e excluídos socialmente? Será que é mesmo por esta ideia de que acharmos que os ciganos gostam de estar à parte, fechados no seu núcleo? Eu acho que não. Faz parte de uma conjuntura sociopolítica e história, que faz sentido ser questionada e exposta das mais diversas formas."

Por fim, Vicente Gil faz um repto para que haja, sim, debate e questionamento, mas que tal só deva ser feito de uma maneira informada: "Se isto existe desta forma, há também uma construção social para acontecer desta forma e há certas construções que se perpetuam na comunidade cigana por não haver enquadramento social que procure esse tipo de passo, de deixar coisas para trás. A parte da envolvência e da integração. (...) Se existem certas coisas que não são tão corretas numa comunidade, devem ser questionadas! Mas vamos questionar com consciência e informação."