Aos 69 anos de idade, Lena d’Água dispensa apresentações e é uma das vozes mais conhecidas do panorama musical em Portugal. Na tarde deste sábado, 4 de outubro, deu uma entrevista a Daniel Oliveira no programa ‘Alta Definição’ em que fez revelações surpreendentes sobre o seu percurso. 

Ler também

Lena d'Água revela que sempre recebeu várias cartas vindas da prisão e que se chegou a encontrar com um recluso

Um dos momentos mais impactantes foi quando falou sobre o pesadelo que viveu no mundo das drogas. A voz de ‘Dou-te um Doce’ tinha 33 anos de idade quando começou a consumir heroína. “Achava que aos 33 anos podia experimentar sem problema e fui estúpida, um bocado arrogante, armada aos côcos”, começou por dizer, ela que ao fim de poucos meses já tinha dado conta de que avançou mais do que queria. Mas deixou de conseguir fazer as suas coisas sem consumir. 

Por essa altura integrava o projeto musical As Canções do Século, com Helena Vieira e Rita Guerra. “Sem aquilo [drogas] não podia fazer nada. Rapidamente precisas daquilo para viver, se não tens aquilo, não consegues pôr-te em pé quase, por isso é que é tão difícil para conseguir largar”, insistiu. 

Lena d’Água gastou muito dinheiro para sustentar este vício, de tal forma que vendeu a sua própria casa. “Fumei o meu apartamento. Para pagar as coisas, vendi-o", apontou, explicando que depois disso, foi viver para outra casa “emprestada pelo meu irmão, em Alfragide.” De acordo com a artista, esta foi uma fase solitária até porque “o círculo da heroína não existe.” “És tu e a pessoa que está contigo e o dealer. Não há mais ninguém, quase total solidão”, atirou. 

Ler também

Lena d'Água conta o acontecimento traumático que a levou a sair da cidade e como a internet a salvou

Até que decidiu parar de consumir e fazer uma desintoxicação. “O corte é de um dia para o outro e o que tens que fazer e isso é a parte difícil, é recuperar a tua vida, as coisas que fazias antes e deixaste de fazer. Ir ao cinema com uma amiga, passar um fim de semana não sei onde, por exemplo”, justificou, não escondendo que “as dores no corpo passam numa semana.” “Numa desintoxicação simples que havia e penso que ainda existe”, insiste. 

A solução de Lena d’Água foi procurar ajuda. “Fui para o Estado, na boa, como uma pessoa qualquer, eu era uma pessoa qualquer”, lembra, esclarecendo que nunca se sentiu olhada de lado. “Éramos cinco ou seis naquela casa em Coimbra, estávamos todos na mesma situação, que era limpar o corpo daquela porcaria e depois continuar com a vida para sempre”, atira. 

Ler também

As confissões de Lena d'Água aos 62 anos de idade: "A droga foi uma estupidez"

Algo que a cantora sempre fez questão foi de que os pais e a filha soubessem de tudo. E nunca pediu dinheiro emprestado a ninguém. O processo de cura foi alcançado a tempo de acompanhar os progenitores em fases mais difíceis das suas vidas. “Entretanto o meu pai estava doente, mas livrei-me daquilo a tempo de acompanhar o meu pai às consultas e ao IPO durante aqueles últimos dois anos, em que estava limpa daquela porcaria, completamente disponível para tratar dos meus pais”, atirou, rematando: “Quando a minha mãe ficou sozinha, fui para ao pé dela, voltei aqui para o bairro para lhe fazer companhia. Mal eu sabia que ela parecia que estava à minha espera e foi-se embora.”