Aos 33 anos de idade, Carolina Deslandes é hoje um nome incontornável da música pop em Portugal. Mas o percurso da cantora não foi, de todo fácil. Mulher decidida, mãe de três filhos e à espera do quarto, nunca se vergou perante as vicissitudes da vida. E dificilmente deixa algo por dizer. De tal forma que numa conversa com Rui Maria Pêgo no podcast ‘Debaixo da Língua’ fez revelações surpreendentes sobre o caminho que trilhou até aqui. 

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Desde tenra idade que a cantora demonstrou ter talento para cantar mas foi a participação na quarta edição do ‘Ídolos’, em 2010, que a deu a conhecer ao grande público e transformou a sua vida. Mas não foi fácil começar a ganhar dinheiro a cantar. “Demorou muito tempo até eu perceber como se conseguia fazer dinheiro com a música. As pessoas achavam que eu já estava num lugar em que eu estava cheio de dinheiro e não tinha dinheiro. Pensava ‘será que toda a gente finge que tem dinheiro?’ Será que isto é uma coisa é como fingires que gostas de sexo à primeira?’ Será que é uma coisa que as pessoas fingem? Demorei mesmo muito tempo”, começou por partilhar. 

Um dos seus primeiros singles, ‘Não é Verdade’, “foi um mega sucesso”, mas Carolina Deslandes “ganhou zero euros com aquilo”. “Tinha 18, 19 anos. Pensava ‘os cantores vivem do quê?’ Demorei muito tempo a perceber que dava viver de forma digna a fazer música e só a fazer música”, prossegue. Foi por isso que começou a fazer publicidade nas redes sociais, algo que lhe valeu críticas, mas que a ajudou a posicionar-se. 

Um dos seus maiores sucessos de sempre, ‘Vida Toda’ saiu em 2017, mas só no ano seguinte, conseguiu, pela primeira vez, viver da música. E estava, praticamente sozinha. “A Rádio Comercial sacou o vídeo do Youtube porque eu não tinha manager, não tinha label, não tinha nada na altura, ninguém queria trabalhar comigo porque estava sempre grávida. É mesmo verdade”, denuncia. 

“Ninguém queria trabalhar comigo, tive o Santiago em 2016, ainda fiz alguns concertos, e engravidei do Benjamim três meses depois, completamente sem querer. Na altura tive que esconder a minha gravidez, com medo exatamente que me dissessem ‘então não vamos poder continuar a trabalhar’”, prossegue. Perante as palavras que ouvia, Carolina Deslandes chegou a ponderar desistir. “Fiquei naquele lugar do agora tens 25 anos, vais ter dois filhos, o que há para comunicar disso? E eu própria acreditei nisso e puseram-me muito na ideia o ‘tu é que escolheste isto para ti, nós não podemos continuar a trabalhar, tu queres é ter uma família’. A um ponto que eu quase que acreditei que como tinha escolhido os meus filhos tinha escolhido não ter a minha música, nem sequer tinha na minha cabeça a noção de ‘estão-me a obrigar e a assumir que estou a escolher uma coisa que nem tinha escolhido’”, explica ainda. 

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De tal forma que quando revelou que estava grávida pela segunda vez e faz a música ‘Vida Toda’, que se tornou um grande êxito, ficou sem concertos. “Quando contei que estava grávida e quando faço a ‘Vida Toda’ e quero lançar, o meu manager da altura disse-me que não se identificava com aquele tipo de sonoridade, achava melhor não trabalharmos mais e o agente que vendia os meus concertos tirou-me do site da agência sem me dizer”, confidencia, com mágoa.

O sentimento foi de “abandono”, mas nem sequer se sentiu zangada. “Achava que merecia aquilo, que as escolhas que tinha feito na vida levaram aquelas pessoas a serem obrigadas a não trabalhar comigo. Só mais tarde é que me dei ao luxo de sentir ‘tipo grande merda que me fizeram’. Ainda era muito nova, não tinha aquele distanciamento de trabalhamos juntos, mas não temos que ser super amigos.” 

Mesmo sem ninguém a seu lado, Carolina Deslandes lançou a sua música e foi um enorme sucesso. No entanto, apesar de ter muitas visualizações, continuava sem ter perspetivas de concertos. “Foi um boom enorme, mas a pessoa que vendia os meus concertos disse-me que tínhamos um concerto para 2018, porque eu tinha números na Internet mas não se traduzia em pessoas reais, que ninguém queria comprar bilhete”, recorda. 

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Nesse momento, a intérprete tomou uma decisão. “Então fiz Lisboa e Porto, produção própria, fiz concertos numa livraria e na cozinha de um hostel, e promovi os concertos nas minhas redes sociais para testar e perceber se as pessoas queriam vir ouvir-me ou não. Abri Lisboa e Porto e esgotei para aí em 5 ou 10 minutos, fiz 12 seguidas, foi o equivalente a um Coliseu do Porto ou de Lisboa, com a soma das duas e é a partir dessa notícia e da afluência disso que consigo ter uma tour em 2018”, lembra. 

A partir daí, tudo muda e em sequência lança o álbum ‘Casa’ e entra para a editora Sons em Trânsito, da qual nunca saiu. Hoje, é uma das estrelas maiores da música portuguesa.