Quem chega à vila de Barrancos, Beja, na raia com Espanha e se cruza na rua com um homem de gorro, barba branca de três dias e roupas mal amanhadas a sair de um pequeno e velho Peugeot verde está longe de imaginar ter à sua frente Zé Maria Seleiro, hoje com 51 anos, o grande vencedor do primeiro ‘Big Brother’ em Portugal (2000), a estrela maior de reality show que alguma vez Portugal idolatrou, o maior fenómeno de popularidade televisiva de sempre, só suplantado por jogos de futebol, e apenas quando a seleção portuguesa entra em campo nas competições internacionais

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Hoje não quer nada com o mediatismo. É jardineiro na Câmara de Barrancos, ganha o ordenado mínimo e quer estar sossegado no seu canto.

Sempre que arranca mais uma edição de um reality com figuras carismáticas começam de imediato as comparações com Zé Maria. E toda a gente pergunta o que é feito dele. Na vila de Barrancos, quem o conhece garante que vive deprimido, vai ao café tomar o seu descafeinado depois do trabalho, faz compras para os pais, ainda vivos, e volta para casa. Tem muito poucos amigos na vila, não se lhe conhecem relacionamentos amorosos. “É um eremita que se fecha em casa e só aparece muito discreto em ocasiões como o Carnaval ou na garraiada das festas em Honra de Nossa Senhora da Conceição, em agosto”, conta-nos um vizinho, que solicita anonimato.

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Há 24 anos, o jovem trabalhador da construção civil viu no programa da TVI uma oportunidade de fugir de Barrancos e sonhar alto. A sua forma peculiar de ser e o seu amor pelos animais - quem não se lembra como tratava e conversava com as galinhas da casa mais vigiada de Portugal - caiu no goto dos portugueses, que lhe deram a vitória. Só que Zé Maria não estava preparado para o que aconteceu. Tornou-se uma das figuras mais mediáticas nacionais. E isso foi demais. “Éramos genuínos. Éramos puros. Não tínhamos maldade. Não tínhamos noção de nada. Vivíamos como se fosse a nossa casa. Não tínhamos a noção da projeção do ‘Big Brother’, da quantidade de pessoas que, também, estavam a viver aqueles momentos”, recordou Susana Almeida, a penúltima a sair da casa.

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No embalo da fama a TVI tentou fazer de Zé Maria apresentador de televisão: ele estava em todo o lado. O diz-que-diz sobre a sua vida amorosa era cada vez maior e a pressão foi demais. Em 2004 tudo descambou. Em agosto tentou atirar-se da Ponte 25 de Abril, mas acabou por ser salvo por militares da Brigada de Trânsito da GNR.

Dois dias depois, a 17 de agosto, foi visto a passear nu numa rua de Lisboa, com dois gatos debaixo dos braços. Foi salvo por agentes da PSP que o levaram para o hospital Curry Cabral, em Lisboa.

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Foi depois internado no Hospital Miguel Bombarda, transferido para uma clínica psiquiátrica e desde essa altura tem acompanhamento médico e tomará para sempre medicação para a depressão, a fim de prevenir novos comportamentos que coloquem em causa a sua vida.