Estrelas Fernando Mendes fala do momento dramático em que não tinha dinheiro para nada: "Ficámos com a água, luz, gás e telefone para pagar"
Fernando Mendes tornou-se um fenónemo de popularidade, tal como o seu pai era na altura. Mas com uma grande diferença: o apresentador do 'Preço Certo' conseguiu ter uma vida confortável que o seu pai nunca conseguiu alcançar.
O ator reconhece que viveu tempos dramáticos na altura em que o seu pai, Vítor Mendes, morreu. Nessa altura, tinha Fernando 17 meses, a família ficou sem chão. Além do momento dramático de terem perdido um ente-querido, viram-se confrontados com grandes dificuldades monetárias.
A recordação é feita à TV Guia pela estrela da RTP, que celebrou 59 anos de vida e quase 20 de 'Preço Certo'.
Tive uns pais extraordinários! Nem era preciso nos darem uma grande educação, porque percebíamos qual o nosso caminho. Recordo esses tempos e tenho saudades. Hoje, quando passo por lá, na Parede, não tem nada a ver. É só prédios, já não há aquele terreno com pedras onde brincávamos.
Também iam para a praia da Parede?
Sim, para pescar. Tenho um grande amigo de infância que me pôs esse vício. Primeiro, víamos se a maré estava vazia ou cheia; depois, tratávamos do isco; a seguir, íamos buscar as canas... Eh pá, tenho mesmo saudades.
Detestava. Sei que não era bom aluno, mas a minha professora traumatizou-me muito.
Professora primária?
Sim.
Traumatizou-o porquê? Batia-lhe?
Bastante! Dava-me aí oito reguadas por dia. O meu pai fazia teatro de revista e, se calhar, não era bem o género que a senhora gostava. E, pronto, descarregava em mim.
Você chorava?
Bastante! E, por isso, eu não queria ir para a escola.
Como é que os seus pais o convenciam a ir para a escola com esse drama?
Eu tinha um problema: não lhes dizia nada do que sofria. Guardava aquilo para mim. E isso é mau. Anos depois, percebi que é mau.
Os seus colegas gozavam-no por levar reguadas da professora?
Não, porque muitos deles também levavam. Ela era mesmo má, uma péssima professora.
O Fernando faltou-lhe alguma vez ao respeito?
Não, zero. Na escola, eu não falava com ninguém. Já ia a medo.
Sim. Ela chamava-me ao quadro, quase todos os dias, eu ia nervoso, já a medo, e errava tudo. Chumbei na 4.ª classe. Depois, no 6.º ano. Via o meu irmão mais novo a apanhar-me e aquilo traumatizou-me mais um bocadinho. Pensava: "Então, o meu irmão tem menos dois ou três anos do que eu e está a apanhar-me?" Os meus irmãos eram todos bons alunos.
Quantos irmãos tem?
Quatro. Depois, no 8.º ano, saiu uma lei que permitia ao aluno chumbar a três disciplinas. Tive sorte, pois chumbei a três. Portanto, passei para o 9º. Aí, comecei a ver aqueles livros do Camões...
Os Lusíadas...
[Sorriso] Sim. Olhava para aquele calhamaço e só pensava que aquilo não tinha nada que ver comigo. Fiz o 8.º ano, portanto. Mas se disserem que fiz a 4.ª classe, também não me importo. Não sei o que é que o 8.º ano, hoje em dia, representa. Sei que não conseguia estudar mais, e não me preocupei: deixei então a escola.
Com que idade?
Tinha 17 anos, mas, atenção, eram pouco vividos. Eu parecia um miúdo de 13. Não são os 17 anos de hoje, que agora a malta está muito mais evoluída.
Foi trabalhar para onde?
Fui trabalhar 30 dias para a Singer, na secção de impressos. Era eu que fazia as cópias, punha-as em 250 cartas, por dia, e tinha de ir aos correios levar dois sacos.
E trabalhou lá um mês?
Um mês. A minha mãe trabalhou lá 30 anos e eu trabalhei 30 dias [risos]. Foi giro. Nunca tinha trabalhado na vida.
Como reagiram os seus pais quando, aos 17 anos, disse que queria ser ator?
O meu pai reagiu bem, mas, quando soube, já estava acamado. Disse-lhe, ficou contente, mas alertou-me que não era fácil. Repare, não foi fácil sustentar quatro filhos, sendo o ator que era.
O seu pai, Vítor Mendes, era uma das grandes estrelas do teatro...
Em popularidade, era. Mas, naquela altura, não se conseguia subir no teatro, porque havia grandes atores... e eles não deixavam ninguém aparecer. Essa era a realidade. Portanto, quando lhe contei, ele gostou da minha decisão, mas, ao mesmo tempo, teve medo.
Quando morreu, o meu pai deixou a água, a luz, o gás e o telefone para pagar. Nós não tínhamos como.
Sendo ele uma estrela do teatro, do Parque Mayer, não ganhava bem?
Não, não ganhava nada de especial. Começou a ganhar um bocadinho melhor na altura em que morreu, em 1980. Morreu em 3 de abril, e eu fui para o teatro em 3 de setembro.
Passaram fome?
Não. Fome foi uma coisa que o meu pai nunca deixou passar. Não tínhamos piscina, carros, como outros na Parede, mas lá em casa a comida não podia faltar. E não faltou. Para já, o meu pai gostava de comer bem, e a minha mãe fazia grandes tachos.
Davam quase para a semana toda...
Não, porque comíamos muito. O meu pai, quando chegava a casa após os espetáculos, já tarde, por volta das três da manhã, sentíamos debaixo da porta um cheirinho... Várias vezes, davam-lhe boleia e nós oferecíamos a ceia aos amigos. Cheirávamos debaixo da porta, tínhamos escola no dia a seguir, mas levantávamo-nos para ir comer com eles.
Boas memórias?
Foram tempos giros, aprendi muito. Por exemplo, o meu pai era muito querido pelas pessoas do Norte. Então, ia a fábricas de roupa e trazia de lá carradas. Era engraçado, porque, depois, não gostávamos da roupa ou dos sapatos e ele dizia-nos para andarmos nus ou descalços. Tínhamos de gostar!
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