Estrelas "Cresci a pensar que ia ser preso". A história de Nininho Vaz Maia: o cigano que esteve preso em casa com pulseira eletrónica e que agora enche a maior sala de espetáculos em Portugal
Nininho Vaz Maia, ou Avelino Abel Vaz Maia, tem 37 anos de idade e esgotou os dois concertos que vai dar dias 15 e 16 no Meo Arena, em Lisboa. Há 11 anos, o homem que nasceu no seio de uma família de etnia cigana no problemático bairro de barracas da Curraleira, nas Olaias, na capital, estava longe de imaginar que um dia se tornaria um fenómeno musical. Mas houve um contratempo na vida de Nininho que o empurrou para a música... e foi a sua salvação.
No programa ‘Alta Definição’ , na SIC, o cantor de flamenco contou o momento crítico que inadvertidamente o empurrou para a fama. “Cresci a pensar que um dia ia acontecer [ser preso]. Se aconteceu à minha volta, à minha família, sei que é o destino”, confessou então, relatando também o dia em que, com apenas 10 anos, viu o pai ser levado para a prisão numa carrinha celular.
Em 2013, Nininho ficou privado de liberdade, 1 ano e 15 dias. Tinha-se envolvido, aos 26 anos, numa rixa entre dois grupos de pessoas, na noite. Tinha antecedentes criminais, acabou condenado. O juiz não o mandou para a prisão, mas teve de cumprir pena em prisão domiciliária, com pulseira eletrónica.
Numa entrevista à TV Guia, no verão de 2024, aceitou contar como tudo aconteceu e ainda revelou medos e anseios. O vídeo (com 3 milhões de visualizações) que fez em casa em 2013 para enviar à sua irmã mudou a sua vida, nem ele sonhava o que estava para acontecer. “Estava muito longe de imaginar o que veio a acontecer. Nem sonhava ser cantor. Eu não tinha coragem de subir a um palco e cantar para pessoas. Só cantava para a família”, revelou, assumindo, todavia, que o canto já lhe corria nas veias, faltava somente a coragem: “Cresci a cantar. Faz parte da minha cultura. Nós, ciganos, crescemos a cantar e a tocar e depois ficamos muito no nosso meio. É a nossa educação, não imaginamos que podemos cantar para o mundo.”
"Pensava que o sucesso era só para os outros artistas. De onde vim não há muitas oportunidades. Nós próprios, ciganos, não criamos muitas oportunidades para nós"
Questionado por nós sobre quando podia fazer carreira no mundo da música, o artista que agora também é jurado no ‘The Voice Portugal’, na RTP1, respondeu: “Não foi há muito tempo. Comecei a esgotar muitas salas, mas a minha mentalidade ainda estava lá. Achava que era um momento e não pensava fazer vida da música. Até ao ponto que cheguei hoje. Hoje acredito que nós conseguimos tudo o que queremos. Basta sermos consistentes e os resultados vão aparecer.”

Ler também
Nininho Vaz Maia dá nega a Cristina FerreiraSó em 2019, seis anos depois do vídeo que se tornou viral na internet, é que Nininho começou a produzir os seus próprios temas. Aí ainda acreditava que tudo “era só um momento” e que depois “voltava à vida normal”. “Era a minha mentalidade. Não sei porquê, mas pensava que o sucesso era só para os outros artistas. De onde vim não há muitas oportunidades. Nós próprios, ciganos, não criamos muitas oportunidades para nós.”
Nestas duas subidas ao palco do Meo Arena, Nininho conta de novo com Triana Martin, uma espanhola também de origem cigana com quem tem dois filhos, e terá em palco Cristiano, hoje com 17 anos, e a jogar no Estrela a Amadora, que com ele cantará o tem ‘Eu Gosto de Ti’. Sobre a mulher, o seu pilar, revela. “Ela é inspiradora, é uma máquina. Chamo-lhe guerreira porque ela foi o suporte desta pequena grande equipa. Tem visão, mudou a minha mentalidade. Fez-me acreditar.”