Estrelas A infância difícil de João Jesus num bairro problemático: as rusgas policiais que o prendiam em casa e que o puseram em risco de vida
João Jesus, de 34 anos de idade, viveu desde a infância à adolescência num bairro na Amadora. Em entrevista exclusiva à TV Guia, o ator de 'A Fazenda', da TVI, contou como foi crescer num local considerado problemático e onde as condições de vida são por vezes parcas.
"[O bairro] está a desaparecer. Há pouco tempo fui lá e as casas estão a ir abaixo porque, pelos vistos, vai lá passar uma estrada", começou por dizer João Jesus, que reconhece que é estranho voltar ao sítio, sentindo que já não é a sua casa e revelando que está a considerar eternizar o local: "Há muito tempo que estou com vontade de registar, de fazer uma espécie de documentário lá no bairro, para que aquilo se torne um pouco eterno na minha memória e não só. Nas memórias da Amadora e de Lisboa também. Espero que a eventual demolição demore e que ainda haja esperança para as pessoas que continuam lá a morar e que aquilo tenha umas associações culturais que ajudem a preservar o local."
De seguida, o intérprete explicou que foi esta a razão pela qual marcou presença na manifestação e organizada pelo movimento Vida Justa na sequência da morte de Odair Moniz, em Lisboa: "Houve uma espécie de identificação e foi por isso que estive na manifestação na Avenida da Liberdade. (...) É um tema complicado, onde se criaram várias vítimas. Não gosto de ver este caso como os “maus” e os “bons”. Porque não é isso a cerne da questão. Há bons e maus de todos os lados. A forma como aconteceu é que levou a que houvessem reações menos boas. Sou contra qualquer tipo de vandalismo, mesmo seguido de uma injustiça, mas a sequência dos acontecimentos podem ter precipitado..."
"Certos comunicados onde se dizia que se devia disparar mais a matar. Depois de coisas como esta, e de se saber de facto o que aconteceu, não se espera uma reação?"
Posteriormente, realçou o seu argumento: "E, depois, certos comunicados onde se dizia que se devia disparar mais a matar. Depois de coisas como esta, e de se saber de facto o que aconteceu, não se espera uma reação? Acho difícil ficar quieto. Sabemos que os bairros são postos de parte pela sociedade e, mais tarde ou mais cedo, há consequências. Parece que, de repente, e nestas alturas, é que se lembram que existem locais assim."
Para concretizar, contou como foi a sua própria história nestes locais no que a rusgas policiais diz respeito e aponta o dedo à forma como o racismo condiciona as abordagens levadas a cabo nos bairros: "No bairro onde cresci, não tenho histórias felizes com rusgas. Porque, de repente, toda a gente era criminosa. Eu tinha que ficar fechado em casa, com a minha avó, porque não podíamos sair. E atenção, que isto era constante. Aceito que tem que se combater o tráfico, mas era a forma como era feito. Tive várias abordagens que podiam ter corrido mal, se tivesse outra cor de pele. É um tema complexo."