Clara Pinto Correia foi encontrada morta nesta terça-feira, dia 9 de dezembro, aos 65 anos, depois de uma vida repleta de acontecimentos, desde o inegável sucesso profissional enquanto escritora, professora universitária ou bióloga, até às polémicas que a perseguiram até ao derradeiro momento.

Foi casada por três ocasiões, a primeira com António Mega Ferreira, que havia conhecido no semanário 'O Jornal'. Após a morte deste, no final de dezembro de 2022, a escritora relembrou, na sua coluna de opinião no jornal 'Página Um', alguns pormenores sobre este romance.

"Depois de um ano maravilhoso de vida em absoluto e perdido estado de pecado na porta giratória da Rua de São Mamede, (...) apanhámos toda a gente de surpresa com o xeque-mate mais colorido deste mundo. Sem dizer nada a ninguém, voltei a vestir, com muito orgulho e algumas lágrimas, o vestido cor de pérola da minha Mãe, da minha tia, e da minha irmã mais velha antes de mim; e foi assim que fomos casar-nos à igrejinha tranquila da aldeia dos meus avós", relatou, numa crónica intitulada 'Meguinha', o apelido que dava ao seu então cônjuge.

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O segundo matrimónio foi com o académico norte-americano, Dick. Foi durante este tempo que adotou os seus dois filhos, na altura de seis e sete anos, ela que nunca tinha conseguido cumprir o sonho de engravidar. "Tentei quatro vezes, de seguida. Até que desisti, tive uma depressão. Deduzo que todas nós passámos por coisas muito parecidas. Criei uma linha SOS depois dos meus quatro falhanços", contou, à 'Sábado', no início deste ano.

"Tinha quase 40 anos, estava casada com o Dick. Ao fim daqueles anos todos, entraram dois miúdos pela casa a dizerem: "Mãe, mãe, mãe!" Puseram-nos em nossa casa em três semanas, porque vinham de uma família problemática. Eram tão magrinhos, assim que os adotámos, fomos passar um mês para um monte alentejano. Quando voltámos de lá, eles estavam maiores, mais altos, mais confiantes. No dia seguinte, metemo-nos no avião para os Estados Unidos. Agora eles têm 31 e 32 anos e eu tenho seis netos: as mais velhas já são adolescentes e o mais novo ainda não fez 1 ano. Estão todos em Londres", descreveu.

Nessa mesma entrevista, que poderá ler aqui na íntegra, afirmou que ainda mantinha contacto com o ex-companheiro. "O amor é a força motriz da vida e está a perder-se. O Dick, pai dos meus filhos, é um homem maravilhoso com quem ainda hoje me dou lindamente. Casámos em Las Vegas, na capela Candlelight Wedding Chapel, onde se casou Bette Midler e mais umas quantas pessoas. Eu tinha 34 anos, em 1994. Fomos os dois de camisa branca, jeans e botas de cowboy. As minhas botas eram de pele de cobra."

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No final do casamento, acabou por ficar afetada financeiramente pela residência que comprou com Dick: "Comprei a que o Dick gostava, mas para mim era uma casa odiosa, na Parede. O Dick ficou com tudo o que estava na América, eu fiquei com um casarão, por pagar. Foi entregue à Caixa Geral de Depósitos, a quem tinha pedido dinheiro. Tive que me apresentar à insolvência."

O terceiro enlace, o mais bem documentado, foi selado em 2008 e com o fotógrafo Pedro Palma. Terminou de forma controversa, pouco depois da exposição 'Sexpressions', que mostravam as expressões de clímax de Clara, e de sugestões de infidelidade por parte deste, que a bióloga negou. "Há correcções a fazer dada a gravidade dos comentários. Não há qualquer amante e acho de muito mau gosto que ele tenha tido este tipo de conversa", disse, ao 'Correio da Manhã'. Refira-se que, em 2017, Pedro Palma acabaria por ser encontrado morto, com contornos misteriosos, na bagageira do próprio carro, ao lado de uma garrafa de bebida álcoolica: as autoridades levantaram a hipótese de que havia tirado a sua própria vida, mas a autópsia indicou que a causa da morte foi arteriosclerose grave das artérias coronárias.

Nos últimos anos, Clara havia-se mudado para Estremoz, depois de um susto de saúde no início do período pandémico, que a havia deixado internada. Nesta terça-feira, dia 9, deu o último suspiro, mas não sem deixar um grande impacto no País, através de uma vasta obra e de uma participação incontornável na memória coletiva de um povo.