Estrelas Gilmário Vemba alerta: "Não me quero transformar num preto especial"
Sem limites e sempre a responder à letra, talvez o angolano mais famoso e acarinhado em Portugal revela como ainda se espanta com o seu sucesso e desvenda um dos segredos do seu show... Nos palcos a encher salas, na TV a fazer disparates em Taskmaster, na publicidade como rosto de uma operadora de telemóveis ou na rádio a gozar com músicas ‘tugas’. Eis o humorista na primeira pessoa, numa entrevista dada em exclusivo à TV Guia, que está nas bancas e que também pode ser lida em formato digital, aqui
Tem medo de ofender com o seu humor?
Tenho. Sou o gajo que chega ao restaurante e que, se a comida não estiver boa, como o que conseguir calado e venho-me embora. Não sou de chamar o empregado ou o gerente e dizer que está mal.
Tem essa postura porque vivenciou algumas carências graves, em Angola, e por isso relativiza?
Chegou a Portugal há dois anos?
Chegou a Portugal há dois anos?Mudei-me para Portugal definitivamente este ano. Fiquei aqui preso seis meses, em 2020, durante a pandemia. Foi na altura dos roast?
Nessa altura, vinha num dia para o roast e voltava no outro. Sempre vim a Portugal. Desde 2016 que vinha gravar e ficava aqui um mês, quando tínhamos acordos com a Disney e com a Fox. Os programas que fazíamos para Angola e Moçambique eram gravados cá. Quando o vi nos primeiros roast achei que tinha imenso potencial. Era muito sereno e disparava a piada certa no tempo certo.
Conta o humorista, numa longa entrevista que pode ser lida na totalidade na Tv Guia.
Contudo, há outro destaque que se pode fazer, entretanto, em relação aos preconceitos.
É alvo de preconceitos?
Claro, mas há preconceitos que todos nós temos, mas como estamos aqui... só olhamos para os daqui. Há coisas estruturais, que já não deviam acontecer.
Mas já lhe aconteceram?
Já me aconteceu ser seguido numa loja. Estou deste lado e sinto esse peso. Já me aconteceu entrar em sítios e não me sentir ainda pertencente. Existe hoje uma coisa muito subtil, que só quem sente, sente. Às vezes é difícil de explicar: parece uma conspiração. Não te proibiram, não te disseram "não vás!", mas...
Não será a sua cabeça a auto sabotá-lo?
Pode acontecer, mas é preciso tirar ali um tempo para se analisar com calma. Quando alguém vem e diz "eu sinto isso" ou "eu sofro isso"... O primeiro impulso é dizer-se que é mentira.
Mas reflete sobre isso?
Sim, porque chego a Portugal e sou basicamente apanhado na curva com estes problemas. Nos anos que trabalho aqui, começaram-me a chegar mais denúncias. Os pretos que vivem cá começaram a sentir que tinham em mim uma voz, uma plataforma para serem escutados.
O Gilmário está a ajudar a que esse preconceito seja um bocadinho atenuado?
Acredito que sim.
É amado por africanos e portugueses?
Por todos. Mas quando és figura pública é mais fácil. Quando ouves "tu não és como os outros"... Não sou como os outros? É a mesma coisa que te dizerem que és um branco diferente, não és um branco como os outros.
É catalogado?
Sim, nós em Angola, na época colonial, tínhamos o indígena, que era o que não se curvava à cultura do colonizador e era ostracizado. Depois tinhas o assimilado, que aceitava e era aceite. Ainda hoje lá dizemos a expressão: "É um mulato que presta". Não quero ouvir dizer que sou um gajo que presta. Não me quero transformar num preto especial.
Leia a entrevista completa na TV Guia, já nas bancas.