Estrelas Reencontro 20 anos depois! A relação complicada de César Peixoto e José Mourinho, unidos por anos de glória
Mais de duas décadas depois de terem estado juntos no FC Porto, entre 2002 e 2004, José Mourinho e César Peixoto reencontram-se no Estádio da Luz na noite desta sexta-feira, dia 26, agora como adversários, com o 'Special One' a comandar o Benfica e o companheiro de Diana Chaves no banco do Gil Vicente.
Esta reunião foi mencionada nas conferências de imprensa de antevisão ao encontro. César Peixoto afirmou: "É verdade que foi o meu treinador, é verdade que foi quem me contratou do Belenenses para o FC Porto, na altura, e que ganhámos muita coisa juntos. Mas, neste momento, ele é treinador do Benfica, eu sou do Gil Vicente e quero ganhar-lhe."
Já José Mourinho revelou que os dois não se encontram desde essa era: "Parabéns ao César, que é um dos meus muitos jogadores que virou treinador. Acho que a última vez que estive com o César foi na final da 'Champions' [FC Porto-Mónaco em 2004], nunca mais estive com ele. Vai ser um prazer." Refira-se, contudo, que, na realidade, César Peixoto ainda defrontou José Mourinho num FC Porto-Chelsea, meses mais tarde, no mesmo ano.
Os primeiros contactos entre os dois até foram como adversários. Depois de um primeiro encontro em 2001, quando a União de Leiria de Mourinho derrotou o Belenenses, onde jogava César Peixoto, este, no ano seguinte, marcou um dos golos da surpreendente vitória dos azuis do Restelo por 3-0 ao FC Porto, do 'Special One'. "Lembro-me do Mourinho cumprimentar-me após o jogo e dizer-me algo como: "Em breve vamos encontrar-nos", afirmou o técnico gilista, ao programa 'Ponto Final', do site 'Zerozero'.
Esse encontro efetivou-se quando o emblema portista recrutou Peixoto para um plantel repleto de grandes nomes. Apesar do talento do então jovem futebolista, várias contrariedades impediram que o seu impacto fosse tão grande como se esperava: nas duas épocas em que coincidiram nos dragões, César Peixoto fez um total de 26 jogos.
Primeiro, César Peixoto sofreu um acidente de carro na ida para o centro de treinos do Olival, num episódio que foi relatado por Costinha, no Porto Canal. "Estive a falar com o 'mister' e ele disse-me que só não me dispensava agora porque não podia, mas que não conta mais comigo até ao final da época", terá dito Peixoto ao colega, que tentou remendar a situação com uma conversa com o treinador, que inicialmente se mostrou pouco impressionado: "Diz a esse gajo que se vem aqui defender o César Peixoto vai já para trás." Todavia, o 'Ministro' acabou por conseguir convencer Mourinho a reintegrar Peixoto, tendo este feito ainda vários jogos nessa época.
Depois, uma lesão grave no ligamento cruzado anterior sofrida por Peixoto num jogo do FC Porto em Marselha afastou-o durante meses dos relvados, levando a que jogasse apenas mais duas partidas até ao final da temporada."Estava a fazer um bom jogo, vinha de uma série a jogar a titular. Ia jogando e não jogando, depois andava sempre em conflito com o Mourinho, porque era sempre muito irreverente. Nos últimos cinco jogos tinha feito quatro golos, estava a emergir cada vez mais, já se falava de Seleção Nacional", descreveu, no 'Ponto Final'.
Ainda assim, fez parte do plantel em duas épocas de glória do FC Porto, que valeram não só dois títulos nacionais, mas também uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões, pese a pouca utilização neste último caso.
A verdade é que o próprio César Peixoto revelou que a relação entre os dois teve momentos de alguma tensão. "A minha relação com o Mourinho era de amor-ódio. [risos] Ou tratava-me bem, ou nem dizia o meu nome. Quando distribuía os coletes, dizia os nomes de todos os jogadores, mas quando era eu dizia 'joga o outro' a olhar na minha direção", contou, numa entrevista a Rui Miguel Tovar, no 'Observador', em 2018.
Para além disso, disse, nessa mesma conversa, que considerava injusta a dualidade de critérios que Mourinho tinha com ele em comparação com elementos mais experientes do plantel, situação que veio depois a descobrir ser uma forma de encorajar a que adaptasse o seu jogo: "Nesses treinos, era só bater. Secretário, Jorge Costa, Secretário, Jorge Costa. Revezavam-se. E o Mourinho nada, só dizia siga. Quando eu fazia uma falta de nada ou nem sequer fazia falta, o Mourinho apitava. Bem, eu passava-me e mandava-o para o c******. Banho, dizia-me eu."
Não obstante, quando César Peixoto sofreu a séria lesão que acabou por condicionar a sua carreira, como o próprio admite, José Mourinho mostrou que as desavenças estavam ultrapassadas, admitindo estar triste com o infortúnio do jogador. "Ele trabalhou muito para chegar aqui. Na época passada andámos longe um do outro. O seu enorme talento não era suficiente para o considerar um bom jogador. Acontecer-lhe isto agora, que a qualidade começava a ser alicerçada tacticamente, é para mim um drama", afirmou, em declarações citadas pelo 'Record', acrescentando ainda acreditar que Peixoto estava às portas da Seleção: "Vamos ter todos juntos de ultrapassar esta situação, mas é uma pena o que sucedeu. É uma pena também para o futebol português porque de certeza que Scolari já estava de olho nele."
Agora, é a quarta vez que os dois se enfrentam em barricadas opostas, a primeira como treinadores, com César Peixoto atualmente a viver um grande início de temporada nos gilistas e Mourinho ainda a testar as águas na Luz.