Estrelas As confissões do futebolista Rúben Semedo sobre o tempo na prisão: os erros, o medo e o único colega que o visitou
Rúben Semedo tinha nas mãos um futuro promissor no mundo do futebol quando ainda jovem saiu do Sporting, onde havia sido aposta forte de Jorge Jesus, para o Villarreal, de Espanha, a troco de 14 milhões de euros, em 2017. Contudo, este potencial acabou por ser travado quando, já em terras espanholas, foi preso por agressão e sequestro. Após sair da prisão, continuou a jogar futebol, chegou a representar o FC Porto, tornou-se internacional português e, entretanto, transferiu-se para o Qatar, jogando hoje com as cores do Al-Khor. Pelo meio, atravessou uma outra polémica, tendo sido acusado de violação na Grécia, acusação da qual acabou por ser ilibado.
"A verdade é que estava perdido, passei de ganhar 10 euros para ganhar 100, e perdi-me com as pessoas que conheci. Sempre disse que a culpa foi minha porque aceitei que essas pessoas entrassem na minha vida. Não escolhi as melhores pessoas para estarem ao meu lado, mas não digo que me arrependa. Fez-me crescer e aprender. Nesta idade, que tenho 30 anos, sou um homem realizado. Obviamente, queria ter outro tipo de histórias para contar no Villarreal", frisou, à publicação desportiva espanhola 'Marca'.
"O que procurava era só ter companhia, ter alguém ao meu lado. Quando fui para o Villarreal fui sozinho. Em muitas das experiências que tive fora sempre estava a sós, não porque a minha família não quisesse ir, mas porque eu não deixava, não os queria perto para não os preocupar. (…) No final de contas, são decisões, tomamo-las e temos de as aceitar e assumir as consequências, boas ou más", acrescentou Rúben Semedo.
Questionado sobre se teve medo na prisão, afirmou o defesa central: "Sim, obviamente, desde o primeiro dia. É algo a que não estava habituado, tive muito medo. (…) Vi muitas coisas. E assustam, obviamente que assustam."
"O que mais me marcou não foi o que vi, mas a rotina, haver alguém a dizer quando tens de dormir, quando tens de comer, o que podes ou não podes fazer, há homens de 30 e 40 anos a ouvi-lo e a fazê-lo e a rotina mata. Fazer todos os dias o mesmo e o mesmo e não ter a liberdade de pegar num telefone para ligar à tua família, de sair para comer. Do que mais senti falta não foi de jogar futebol, foi de estar em casa a ver Netflix ou a jogar cartas, beber um vinho, partilhar coisas com a família e com as pessoas que gostas", desenvolveu o defesa.
"O que mais me marcou não foi o que vi, mas a rotina, haver alguém a dizer quando tens de dormir, quando tens de comer, o que podes ou não podes fazer"
Ainda sobre o tempo em que esteve preso, revelou quem foi o único colega que sempre esteve do seu lado: "Quando estive dentro recebi muitas cartas, mas quando saí senti o apoio de muitos colegas. Tenho um amigo muito bom, que é o Gelson Martins [ex-jogador do Sporting], ele foi o único a visitar-me. De colegas do futebol foi o único. Não é só um colega, é meu irmão. Gosto muito dele."
Finalmente, referiu que não sentiu preconceito por parte dos restantes futebolistas: "A verdade é que não. Sou uma pessoa muito aberta e gosto muito de brincar. Quando cheguei ao balneário, havia um silêncio muito grande. Cheguei muito sério, cumprimentei todos e disse: 'Olá, sou o Rúben, como estão? Estejam calmos, que não vou sequestrar ninguém', e toda a gente se riu."