Estrelas De amigos a rivais: a história que liga José Mourinho a André Villas-Boas e como o presidente do FC Porto lutou para se afastar do treinador do Benfica e conquistar um lugar ao sol
Foi há 31 anos que José Mourinho, de 62 anos de idade, e André Villas-Boas, de 47 anos de idade, se conheceram. Quem os apresentou foi Bobby Robson, então treinador dos azuis e brancos. Por essa altura, ainda nem o atual presidente do FC Porto era maior de idade e já trabalhava como olheiro para o técnico inglês. Houve uma simpatia imediata, mas anos depois, em 2002, quando Mourinho regressou ao clube azul e branco como treinador, já Villas-Boas era treinador de método da equipa sub-16.
E foi o próprio quem teve uma conversa séria com o colega e lhe pediu uma oportunidade. “Propus-lhe fazer algum tipo de trabalho e ele deu-me a oportunidade de observar um jogo. Gostou do meu relatório e fiquei com a análise dos adversários até final da época. Depois disso, passei a tempo inteiro”, recordou o portuense numa entrevista. Esta parceira permaneceu durante muito tempo em segredo para quem não trabalhava no FC Porto. Mas, quando os azuis e brancos conquistaram o título em 2003, acabou por se tornar oficial. Aliás, André Villas-Boas chegou mesmo a ser referenciado num livro publicado por Mourinho nessa altura.




A amizade e o reconhecimento profissional eram de tal ordem que, ao assinar pelo Chelsea, em 2004, o treinador quis levar o olheiro e este acompanhou-o para Inglaterra. Juntos, somaram muitos sucessos e conquistaram diversos troféus. “Trabalhar com ele leva-te para outro nível. Apaixonas-te por ele e ele torna-se o teu ídolo. Eu queria ser como ele, saber tudo o que ele sabia e absorver toda a informação que me estava a dar. Então ficas do lado oposto ao do José e as coisas mudam, percebes que foste cegado por alguém. Ele tem a capacidade fascinante de tirar o melhor de ti, que tem boas ou más consequências para as pessoas. A minha foi de que ao argumentar ou discordar com ele comecei a minha carreira de treinador", chegou a dizer o atual presidente do FC Porto numa outra entrevista.
Só que, em 2008, seguiram caminhos diferentes. Villas-Boas queria mais e a sua vontade passava por deixar de ser olheiro e assumir-se com treinador. “O ponto de término foi porque estava cheio de ambição de lhe dar algo mais [no Inter] e queria um maior envolvimento com o trabalho que fazia na altura, que era olheiro e preparação para os jogos. Senti que lhe podia dar muito mais, por isso a minha ideia inicial era continuar a trabalhar com ele. Mas ele não sentiu necessidade de alguém próximo dele ou noutra posição como treinador adjunto e, por isso, decidiu-se que estava na altura de continuarmos as nossas carreiras [separados]”, admitiu na mesma entrevista.
Desde esse dia, a relação azedou. Os dois seguiram depois caminhos bem diferentes, com Villas-Boas a chegar a treinador principal do FC Porto em 2010 e a ganhar nessa temporada o campeonato, a Taça de Portugal e a Liga Europa. Um êxito que o levou ao Chelsea, seguindo-se depois outros clubes como o Tottenham, Zenit ou Marselha. Mas a relação entre os dois deteriorou-se e hoje é apenas cordial.
Quando Mourinho assinou pelo Benfica, Villas-Boas enviou-lhe uma mensagem, que deu muito que falar e obrigou-o, mais tarde, a vir esclarecer tudo: “Não foi um telefonema, mandou-me apenas uma mensagem a comunicar que seria o treinador do nosso rival e, a partir daí, não lhe posso desejar boa sorte. Disse-lhe: 'É o teu destino de vida, um abraço’”, referiu.