José Mourinho vai ter um jogo especial na noite desta terça-feira quando o Benfica defrontar o Newcastle em jogo a contar para a fase de Liga da Liga dos Campeões. O treinador dos encarnados visita St. James' Park, casa que outrora foi do seu mentor, Bobby Robson, ex-treinador de Sporting e FC Porto, e que, por isso, sempre disse ter um significado muito concreto para si, apesar de nunca ter trabalhado nos 'magpies', tal como agora reforçou.

"Eu sentia sempre qualquer coisa especial mesmo antes do mister Robson partir. Depois disso senti a proximidade, que mesmo com as pessoas que amamos, o dia a dia leva-nos a passar ao lado da saudade. Há locais que nos fazem abrir a porta para que essas pessoas entrem no nosso pensamento. Trabalhei com o mister Robson seis anos e não passava um dia que ele não mostrasse a paixão por Newcastle cidade e clube, o orgulho com que falava... nunca escondi que o Newcastle foi sempre um clube querido, obviamente por influência de uma lenda deste clube", relatou, emocionado, o treinador de 62 anos, na conferência de imprensa de antevisão ao jogo, onde ainda acrescentou: "Levou-me para Barcelona e isso para um jovem, com o tempo que passei lá, foi uma experiência incrível. Aquela porta é gigante e foi aberta por ele. Outra coisa foi o que aprendi a nível futebolístico e humano. A confiança que ele colocou em mim."

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Anteriormente, em 2019, o Special One já havia falado para um documentário especial da Sky Sports nos 10 anos da morte do treinador inglês: "O que ele me deu? Não o consigo descrever em palavras e não iria para o campo futebolístico. Iria mais para o que o Sr. Robson era enquanto pessoa, enquanto homem. É dessa forma que o quero recordar. Há muitas memórias de futebol, mas o que quero manter são as que tenho do ponto de vista pessoal. A minha filha, com apenas um ano, eu e o Sr. Robson a vermos futebol na televisão ou o Sr. Robson com ela nos seus braços... Eu a almoçar com ele e ele a nunca deixar-me pagar, porque segundo o que ele dizia 'Tenho mais dinheiro do que tu e menos tempo para viver do que tu, por isso não tens de me pagar nenhum almoço'. E nunca lhe paguei um único almoço."

A história entre os dois começou em 1992, quando Mourinho trabalhava como intérprete no Sporting, clube ao qual Robson chegou pela mão de Sousa Cintra. Apesar de as suas principais funções serem linguísticas, o seu contacto com o futebol de alto nível com o patrocínio do técnico inglês era grande. Quando Robson, após ser despedido pelo presidente leonino, se mudou para o FC Porto, onde foi bicampeão, levou consigo Mourinho, situação que se repetiu na transição da Invicta para Barcelona, onde também inspiraria um jovem Pep Guardiola a ver a profissão de treinador como um desiderato para o futuro.

Aqui, depois do inglês passar a diretor do clube catalão, cargo que pouco depois deixaria para ser treinador do PSV, Mourinho permaneceu como assistente do treinador que se seguiu, o lendário técnico neerlandês Louis van Gaal. "Eu queria ir com o Bobby quando ele deixou o clube para ir para o PSV, mas ele aconselhou-me, como amigo, a ficar no Barcelona, porque era um clube fantástico onde iria aprender muito", descreveu 'Mou'.

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Foi o último passo antes de começar a sua carreira como técnico principal no Benfica, em 2000, na sequência de oito anos a auxiliar técnicos de topo – nesta altura, já Robson trabalhava no Newcastle, onde cumpriu as suas últimas cinco épocas nos bancos e deixou uma marca indelével no adversário desta noite do Benfica.

Em 2003, em entrevista ao 'The Guardian', o antigo selecionador de Inglaterra abria o jogo sobre o papel de Mourinho: "Ser intérprete era o seu trabalho principal, mas ele trabalhava a um nível alto no mundo do futebol. Ele sentava-se no banco comigo e com o Louis [van Gaal]. Demos-lhe mais e mais responsabilidade ao longo do tempo. Ele trabalhava rápido, tirava notas, era muito inteligente. E fazia algum treino com os jogadores, observação, relatórios de jogo, que eram de primeira água, mas nada de muito grandioso."

Num momento de grande tristeza para o futebol inglês, Robson morreria em 2009, aos 76 anos, vitimado por um cancro, doença que havia batido quatro vezes anteriormente. No meio de todos os tributos, José Mourinho, na altura timoneiro do Inter de Milão, providenciou um dos mais tocantes: "É difícil aceitar que uma pessoa como ele já não está connosco, mas ele é imortal porque deixa em todos os que o conhecem uma marca da sua personalidade. Não falei com ele nos últimos dois meses, porque era difícil para mim. Eu não queria pensar que ele estava a morrer, não era essa a imagem que eu queria manter comigo para sempre do Bobby Robson, não era a voz que eu queria ouvir."

Nove anos mais tarde, Mourinho deixaria sobre Robson uma frase que ainda hoje ressoa, durante um documentário, 'Bobby Robson: More Than A Manager', e que é representativa da sua admiração profunda pelo seu antigo mentor: "Eu sinto falta dele. Mas eu lembro-me dele. Lembro-me dele todos os dias. Conto histórias sobre ele. Uma pessoa só morre quando a última pessoa que o ama morre."

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