Estrelas Sportinguista ferrenho, aprendeu a cozinhar em Oxford e fã acérrimo dos Nirvana: quem é Francisco Pedro, o sucessor de Francisco Pinto Balsemão, e que vai agora tomar conta dos negócios do pai
Francisco Pedro Balsemão foi o escolhido por Francisco Pinto Balsemão para pegar nas rédeas do grupo Impresa, enquanto CEO, em 2016, substituindo Pedro Norton e cumprindo assim o sonho de deixar o império que criou nas mãos da família. Mas afinal quem é, para além do seu cargo, este que é um dos cinco filhos do antigo primeiro-ministro?
Segundo filho do casamento de Francisco Pinto Balsemão com Mercedes Balsemão, estudou desde os quatro anos no colégio internacional St. Julian's, de onde apenas sairia 14 anos depois, um percurso que teve em comum com a sua irmã, Joana, de quem sempre foi próximo. Foi logo aqui que compreendeu o peso que carregava. "Foi na adolescência que tive a perceção do peso do meu nome. Estudei no St. Julian’s que é um colégio inglês, era muito internacional porque havia gente de muitos países. Os meus pais puseram-me lá em parte para me resguardar do facto de o meu pai ter sido primeiro-ministro um ano antes de eu entrar", explicou, na sua entrevista de vida ao 'Alta Definição', da SIC, em 2024.
"Durante muito tempo, não tinha bem noção do que era o apelido Balsemão. Houve um dia em que um amigo meu que não era muito amigo me disse: ‘O meu pai ontem à noite disse-me que tenho de ser teu amigo’. Eu perguntei porquê, ele disse que não percebeu, mas que tinha qualquer coisa a ver com o meu pai'", recordou.
Apesar do sucesso escolar, havia um traço, ou a falta dele, que não se coadunava com a expetativa que havia por ser filho do fundador da SIC e do 'Expresso': "No último ano, é nomeado um aluno e uma aluna para serem os chamados ‘head prefects’, eu fui o dos rapazes, porque era o melhor aluno e porque tinha um histórico. E é preciso fazer muitas intervenções públicas e dar a cara. Tinha pânico de falar em público, mas mesmo pânico físico. As pessoas exigiam que tivesse a capacidade oratória do meu pai e era o oposto."
Contudo, acabou por ultrapassar este defeito para poder abraçar um cargo de elevada importância como o presente: "Marcou-me no sentido negativo porque tive de fazer discursos, que corriam pessimamente, gaguejava e não conseguia dizer coisa com coisa. Muitos anos depois só depois de entrar na Impresa é que me obriguei a superar isso, isso só se supera com prática e coragem de enfrentar as coisas, achei que era importante para mim. Hoje em dia, faço muitos discursos e intervenções públicas e gosto de o fazer." Ademais, nunca ganhou qualquer soberba pelo seu estatuto na sociedade: "Foi bom ter percebido da importância política do meu pai de forma gradual. Foi uma coisa boa, porque assim nunca me deslumbrei, nunca tive o 'sou filho do Balsemão, posso fazer o que eu quero'."
Em 2016, em declarações ao 'Negócios', dias antes de assumir o cargo de CEO, confessou que não era algo com que sonhasse quando "tinha 10 anos ou 18, 20 ou 30". No entanto, frisou: "É uma ótima sensação, a de poder vir a ter um impacto nesta área e nesta empresa que tanto admiro. No fundo, tenho sete anos de experiência na Impresa e 35 anos de experiência pessoal e de vivência com alguém que respira, que vive e que sente este mundo, e de quem herdei esses genes e um entusiasmo enorme por esta área que tanto adoro."
Também na entrevista a Daniel Oliveira, Francisco Pedro Balsemão revelou como surgiu a sua paixão pelo desporto, no qual experienciou diversas modalidades. "Até aos oito ou dez anos, não gostava de desporto. Era bom aluno, mas era o chamado ‘nerd’. Eu gostava de estudar, pedia à professora trabalhos de matemática, porque não eram suficientes. Depois, fiquei amigo de um dos rapazes mais populares da turma, e era o melhor desportista, ele engraçou comigo por alguma razão, por causa disso comecei a gostar de jogar futebol. Nunca fui grande jogador, mas era esforçado, já joguei a várias posições diferentes, até fui guarda-redes, acabei a carreira a defesa central, acho que é digno, patrão da defesa [risos]. Jogava ténis também, durante anos e anos, jogava também competição, não era grande espingarda, mas não era mau. Atletismo sempre fui melhor a longas distâncias, fazia corta-matos, ganhei duas vezes a corrida interescolas dos 800m, que era a minha distância preferida."
Nesse sentido, tornou-se um ferrenho adepto do Sporting, com a chama da paixão pelas cores verdes e brancas a nunca se ter apagado: "Sofro ainda demais com o Sporting. Neste momento não, felizmente, e até estou a estranhar. Os dois lados da minha família são todos sportinguistas, tirando algumas ovelhas negras ou encarnadas [risos]. Tenho 'Lugar de Leão' desde o primeiro dia no estádio novo."
Acima de tudo, a sua prioridade é a família. Está junto há quase duas décadas com Maria Zagallo, sócia na área de Público do escritório de advogados PLMJ, com quem teve três filhos, Francisca, Xavier e Henrique.
"A Maria é a minha alma gémea. A minha vida sem a Maria também não sei o que era. É estranho dizer-se isso, mas há uma parte da minha vida adulta que foi sem a Maria e lembro-me pouco disso, construímos um caminho juntos muito bom, muito baseado na parte da paixão. A vida do dia-a-dia é tramada, estamos sempre a correr de um lado para o outro, a Maria trabalha tanto ou mais que eu. Temos às vezes menos oportunidades no dia a dia para que gostaríamos para manifestar o nosso amor um pelo outro como gostaríamos, fazemos por isso: passar fins de semana juntos, irmos viajar juntos só os dois, para isso temos também os meus sogros que são fantásticos e ficam quase sempre eles com as crianças", contou.
Os dois casaram em 2018, quando já somavam muitos anos juntos: "Já tínhamos dois filhos, fizemos uma festa mais ou menos pequena. Já tinha ameaçado fazer o pedido há algum tempo, ela dizia sempre que não queria. Fiz uma coisa que foi no dia de Natal, de 24 para 25, convidei-a para o casamento dela, no dia 31 de março às 18h, três meses depois. E a essa hora estávamos a casar-nos. A reação dela não posso dizer [risos], foi um palavrão."
Da vida dos filhos nunca quis perder pitada, mesmo que isso lhe custe várias horas de sono. "Não pago nenhum preço por este cargo, mais à frente vamos ver se não pago esse preço porque durmo menos do que devia e isso pode ter um impacto na minha saúde, mas vou tentar resolver isso. (..) Durmo menos porque tenho três filhos pequenos, optei por não abdicar deles e do que eles valem para mim. Tenho a sorte de ter acompanhado os meus filhos desde o primeiro dia. Não perco uma peça de teatro na escola, um recital, um jogo de ténis, as festas de Natal, até agora não perdi uma."
Francisco Pedro Balsemão relembrou ainda os três períodos que passou fora de Portugal, foi neles que saboreou pela primeira vez a independência e onde até... aprendeu a cozinhar: "Estudei em Barcelona, fiz lá o Erasmus, foi a primeira vez que tive alguma autonomia, fui com a minha namorada na altura. Fiquei com o bichinho e no primeiro ano de Advocacia pensei em ir para fora, estava sem namorada já também, fui fazer o mestrado em Inglaterra para Oxford, foi uma experiência espectacular, foi onde aprendi a cozinhar, aos 26 anos. Sabia fazer quatro ou cinco pratos, mas aí aprendi as coisas que toda a gente sabe desde cedo. Logo de seguida, quis continuar fora, soube que tinham aberto umas vagas na Missão de Portugal nas Nações Unidas, em Nova Iorque: na altura, em 2007, Portugal estava na presidência da União Europeia, estavam a precisar de pessoas lá, candidatei-me e entrei. Foram seis meses, fui para lá trabalhar."
Além do desporto, também a música é uma das suas grandes paixões – na juventude assistia a vários concertos de estádio na companhia dos seus irmãos mais velhos – e o tema de um dos seus principais arrependimentos: não ter visto o mítico espetáculo dos Nirvana no Dramático de Cascais, em fevereiro de 1994, a única passagem dos norte-americanos por Portugal que aconteceu apenas dois meses antes da abrupta morte de Kurt Cobain.
No podcast 'Posto Emissor', da 'Blitz', recordou esta altura: "Foi pouco tempo antes do Kurt Cobain morrer. Já era muito fã dos Nirvana, como sou hoje em dia, talvez a minha banda preferida ou no top-5, continuo a ouvir muito. Tinha a oportunidade de comprar um bilhete, havia uma pessoa que tinha um bilhete para mim. Por ter um teste de História ou de Geografia, não fui a esse famoso concerto. Na altura, morava em casa dos meus pais, muito perto de onde foi o concerto. Arrependo-me até hoje, apesar de terem partido o nariz a essa minha amiga que tinha o bilhete no 'mosh pit', mas isso fazia parte desses concertos."
De resto, o grunge era o que Francisco Pedro mais ouvia, ele que, no mesmo podcast, listou algumas das suas bandas de eleição, grandes nomes do género na década de 1990: "A minha tribo foi o grunge. Nirvana, Pearl Jam, Faith No More, Alice in Chains, Soundgarden, Temple of the Dog, Stone Temple Pilots. (...) A música tinha ali qualquer coisa de raiva e, quando estamos a crescer, há essa coisa das hormonas. Felizmente, havia muitas capas de discos tinham as letras lá escritas e nós líamos e parecia que fazia tudo sentido. Ou sofríamos por questões amorosas, ou porque eramos incompreendidos, estávamos sempre a sofrer enquanto adolescentes [risos]."
Aliás, foi um primo, Éric, que vivia em Paris, que o levou a ganhar o gosto musical que levou para o resto da vida: "Mandou quatro cassetes na altura. Já ouvia um bocado de Guns n'Roses que para ele não era assim tão fixe, porque já estava um passo à frente. Mandou-me cassetes de Nirvana, Pavemente e a banda sonora de um filme, 'Judgment Night', que nem sequer vi, mas a banda sonora era com bandas de heavy metal e rap/hip hop, Faith No More, com Boo-Yaa T.R.I.B.E., Helmet com House of Pain, Cypress Hill com Sonic Youth. Coisas que nunca tinha conhecido na minha vida." Apesar de tudo, admite que, com a idade, tornou-se mais eclético, mas nunca sem deixar os gostos do passado, que diz ainda ouvir até agora.
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