Estrelas Discriminação e revolta. O relato emocionante de Catarina Maia e a tristeza com o tratamento dado ao irmão com trissomia 21
Catarina Maia, de 25 anos de idade, cresceu ao lado do seu irmão mais velho, Daniel (27), que sofre de trissoma 21, e lamenta as barreiras que são impostas pela sociedade a pessoas com esta deficiência.
"Lido pior agora porque tenho mais consciência, na altura, não lidava sequer. Só soube que o meu irmão tinha trissomia 21 quando fui para a escola, em casa não éramos tratados de forma diferente. Não me tinha apercebido sequer que pudesse existir uma deficiência ou que pudesse existir algo nele diferente para mim. Quando fui para a escola e vi que ele estava a ser discriminado de alguma forma é que percebi, e ainda tentavam gozar comigo por isso", conta, no podcast 'Geração 90', de Júlia Palha.
"O que me começou a magoar foi quando comecei a crescer e comecei a perceber o ponto de maldade é que vinham os comentários e de onde é que vinha a discriminação. É falta de informação, é ignorância, e, quando comecei a perceber que é uma escolha pessoal não procurares informação e tentares desmistificar o estigma, comecei só a achar que não é compreensível que isso exista", lamentou a radialista da Mega Hits.
A antiga repórter digital do 'The Voice' reconhece mesmo que é uma mágoa que a assola: "É uma coisa em que ainda tenho de trabalhar hoje em dia, ainda não consigo lidar bem com a revolta que às vezes por mim se assombra de vivermos numa sociedade que não aceita e discrimina a deficiência. Ainda estou a trabalhar nisso, na terapia."
"Acabam por não o contratar por pensarem automaticamente que esta pessoa não me vai dar aquilo que uma pessoa sem deficiência me vai dar"
Questionada pela atriz sobre como é que se sente esta discriminação, Catarina Maia esclareceu: "Sente-se muito mais do que devia. O meu irmão fez um curso profissional de restauração e bar para completar o 12.º ano do qual saiu com ótima nota. Esteve a estagiar em vários restaurantes, e nunca existiu no fim de um estágio uma oferta de emprego. As coisas não são feitas no processo natural no que por norma uma pessoa sem deficiência tem acesso."





"Esteve quase dois anos desempregado, porque não existe oferta de emprego. Existem alguns apoios do Estado na empregabilidade de uma pessoa com deficiência: o Estado paga 'X' do ordenado, mas isso tem uma finitude. Para além de existir essa ajuda, tem de existir uma cláusula no contrato que faz com que no final dessa ajuda as entidades têm de contratar o funcionário. Acabam por não contratar sequer antes desta ajuda do Estado por não darem oportunidade, por pensarem automaticamente que esta pessoa não tem as 'skills' que quero e que não me vai dar aquilo que uma pessoa sem deficiência me vai dar, o que é completamente errado. Todos nós temos as nossas valências e se não nos for dada a oportunidade de mostrá-las não vai haver ninguém que vai acreditar nisso", elaborou.
Em jeito de conclusão, refletiu: "Sempre vi os meus pais a tratar a deficiência com uma normalidade e naturalidade e principalmente com muito amor. A minha mãe sempre me disse: 'Faz tudo com amor e por amor'. O facto de sempre ter empatia pelo outro e tentar perceber o que o outro está a dizer. Se não for a atacar é mais fácil que uma pessoa me perceba. O conflito não resolve nada a meu ver."
Refira-se que Catarina Maia faz frequentemente partilhas ao lado de Daniel nas suas redes sociais, com elogios rasgados à sua capacidade de superação. "És a minha maior inspiração e fonte de força, é inevitável relativizar problemas da minha vida quando penso em todas as barreiras que quebras e em tudo o que tens alcançado", escreveu, por exemplo, em maio de 2022.