Estrelas Margarida Marinho explica o que a levou a afastar-se do mundo das novelas
Margarida Marinho, de 62 anos de idade, está há quase uma década afastada das novelas, universo do qual chegou a atingir o patamar de ser uma das principais figuras, a par de nomes como Alexandra Lencastre – a última foi 'Poderosas', entre 2015 e 2016. Esta saída de cena deu-se por opção própria, tendo preferido dar um rumo distinto à sua carreira. Nos últimos anos, tem somado trabalhos em produções como 'Cuba Libre', da RTP1, ou 'Lúcia – A Guardiã do Segredo', da Opto.
A atriz referiu, no podcast 'Ar Livre', de Salvador Martinha: "Não há independência quando dependo de terceiros, há uma gestão diferente da dependência. Fiz questão de, a partir do momento em que comecei a ter alguma confiança nas minhas capacidades e na minha arte, ao ver pessoas mais velhas, pessoas com mais carisma, que me passaram esta ideia de lutar por um espaço pessoal também, comecei a adotar esse tipo de existência, de poder fazer escolhas."
A intérprete refletiu ainda sobre as consequências destas escolhas: "Temos de sobreviver e de repente a conta bancária desce um bocadito e as decisões são mais difíceis, porque há riscos. Já sabia que ia acontecer e aconteceu-me, como tive uma existência ligada à televisão. Primeiro fora e depois na televisão, foi muito intenso, e, quando saí da televisão no sentido de um determinado formato longo, caí lá de cima cá para baixo."
O caminho depois das novelas trouxe uma nuvem de indecisão que Margarida Marinho teve de atravessar, não deixando de estar segura da sua decisão: "Queria fazer outras coisas, e há uma travessia do deserto. (...) Quis sair desse lugar onde comecei a ver à minha volta produtos que... Tive muito gozo e prazer em determinados projetos, tenho consciência de que cresci com ele. Mas também comecei a ver que a linhagem low cost se estava a desenvolver. E isso tem um preço que, do ponto de vista da qualidade, se ressente imediatamente."
Margarida Marinho continuou: "É uma coisa que comecei a perceber que não queria mais. Tem de haver um limite, porque, de repente, tudo começa a ser facilitado e nós sabemos que até para lutar contra o Alzheimer precisamos de desafios intelectuais. Não é por facilitar ou banalizar o discurso literário que vamos ganhar alguma coisa com isso. "
"Tive personagens em que me entreguei como se fosse uma longa-metragem. Levei aquilo tão a sério e era tão obsessiva que se calhar até estraguei vários dias a várias pessoas."
Depois de fazer uma ressalva, a artista conta: "Fui feliz porque fiz aquilo que quis nas novelas. Tive personagens em que me entreguei como se fosse uma longa-metragem. Levei aquilo tão a sério e era tão obsessiva que se calhar até estraguei vários dias a várias pessoas. (...) Não foi dinheiro mal gasto, nem tempo perdido. Sei que foram equipas que estavam verdadeiramente a querer fazer o melhor projeto dentro daqueles moldes. E deixei de sentir isso. As pessoas estavam a ficar infelizes, tudo já numa dinâmica muito pouco saudável."
Por fim, rematou: "Acho que nós temos todos lutar por por ter acesso a desafios, mesmo que nos pareçam que não têm a ver com a nossa dinâmica. Tem a ver com o facto de podermos crescer neste sítio a que nos propomos ser atores. Se estamos neste país e se esta é a nossa língua, vamos lá fazer coisas em que respeitamos a língua e que exercemos a criatividade sobre ela e não vamos dar pontapés naquilo que é um bem precioso."