Estrelas Um mês sem Diogo Jota e André Silva: o que resta do mistério, as homenagens sem fim e uma ausência que será lembrada por muito tempo
Poucos se irão esquecer de onde estavam na manhã do dia 3 de julho de 2025, quando o mundo do futebol parou em estado de choque ao chegarem as primeiras notícias que davam conta da morte de Diogo Jota e do irmão, André Silva, num acidente de viação na localidade espanhola de Zamora, na autoestrada A-52.
O falecimento de dois jovens havia sido noticiado horas antes por órgãos locais e a 'Marca' avançaria que se tratava do internacional português de 28 anos – que havia casado dias antes com a companheira Rute Cardoso, com quem tinha três filhos em comum – e do futebolista do Penafiel, de 25. Durante uma ultrapassagem, o Lamborghini onde seguiam acabou por embater contra um rail da estrada e incendiou-se após o tanque de combustível se partir, vitimando tragicamente os seus dois passageiros.
As primeiras perícias, realizadas pela Guardia Civil em Zamora, davam conta de que a viatura se deslocava em excesso de velocidade, mas um camionista que fora ultrapassado pelo carro do jogador do Liverpool assegurou que, pouco antes do acidente fatal, o carro viajava a uma velocidade moderada, atribuindo às condições da via, nomeadamente a escuridão e o pobre estado de conservação, a justificação para o sucedido. Quando as perícias forem concluídas, o relatório será entregue ao tribunal de Puebla de Sanabria.
Pelo impacto que tinha não só pelo futebol, mas também pela personalidade que demonstrava, Diogo Jota foi alvo de uma miríade de homenagens por todo o mundo. Para além do funeral realizado em Gondomar, onde cresceu, foram criados locais para deixar dedicatórias, por exemplo, junto ao estádio do Liverpool, assim como do Wolverhampton, onde jogou entre 2017 e 2020.
Rute Cardoso, a mulher de Diogo Jota, manteve-se maioritaria e compreensivelmente discreta perante a indescritível situação com a qual se deparou, com duas exceções. No dia 11, deslocou-se precisamente até à cidade dos Beatles para deixar uma emotiva mensagem no mural erguido junto a Anfield, reduto dos 'reds'. Envergando um vestido branco, presumivelmente em referência à alcunha que recebeu do marido, redigiu: "Amo-te, para sempre… a tua branquinha."
Dias depois, na data que marcava um mês desde o matrimónio celebrado na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, recorreu às redes sociais, naquelas que foram as únicas palavras nessas plataformas desde a tragédia. "1 mês do nosso 'nem a morte nos separa'. Para sempre, a tua branquinha", afirmou.
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O impacto de Diogo Jota levou a que as dedicatórias não se cingissem a um espaço temporal que as tornasse efémeras. Efetivamente, nos últimos dias, marcados pelo início da temporada de futebol, continuaram. Na Supertaça de Portugal, disputada na última quinta-feira, a mulher e os pais de Diogo Jota estiveram presentes no estádio a convite da Federação Portuguesa de Futebol, tendo havido lugar a um minuto de silêncio pelos dois irmãos antes do pontapé de saída, tal como acontecera, por exemplo, no Campeonato do Mundo de Clubes. No dia 3 de agosto, está agendado mais um tributo, durante o jogo de apresentação do FC Porto contra o Atlético de Madrid, dois emblemas que o malogrado jovem representou.
Outros decerto surgirão ao longo da época, pontificando no dia 27 de dezembro, quando o Liverpool receber o Wolverhampton, num jogo em que todo o estádio irá partilhar o mesmo sentimento de dor pela partida precoce do "rapaz que veio de Portugal", como se entoava num dos cânticos dos adeptos do atual campeão inglês.
Neste âmbito, o Liverpool eternizou o número 20 que Diogo envergava na sua equipa principal e anunciou-o junto dos jogadores que compõem o plantel da época vindoura. Já o Gondomar, o seu primeiro clube, revelou as camisolas para a nova época que incluem uma ilustração de Diogo Jota e André Silva – "dois filhos de Gondomar que nos deixaram cedo demais, mas que viverão para sempre na história do nosso clube e do nosso futebol", como se pode ler na partilha do clube – na parte da frente dos equipamentos e os seus nomes juntamente com o símbolo do infinito na parte de trás, junto à gola.



Rúben Neves, melhor amigo de Diogo Jota no desporto-rei, indiciou, inclusivamente, na sua participação no programa 'Futebol Arte', de Luís Freitas Lobo, que a Seleção Nacional irá fazer-se valer das qualidades que o avançado mostrava em campo para se unir à procura da conquista do Mundial de 2026, com a motivação extra de lhe poder dedicar esse troféu. "Vamos fazer o melhor possível para que ele consiga ganhar esse título connosco", afirmou o médio, num sentimento que será partilhado por todos os colegas, até porque permanece fresco na memória o título da Liga das Nações erguido em maio, o último da carreira de Diogo Jota.
No final de contas, na manhã de 3 de julho de 2025, o mundo irá acordar novamente, mas desta feita mais pobre e com o peso do silêncio ensurdecedor causado pela falta de uma personalidade exemplar que deixou amigos por todos os locais onde passou e cuja ausência será incontornavelmente sentida em todos os jogos do Liverpool e da Seleção Nacional num futuro próximo.
Disse uma vez José Mourinho, para exaltar o seu mentor Bobby Robson, que um homem só morre quando morre a última pessoa que o ama: nessa perspetiva, Diogo Jota e André Silva permanecerão bem vivos nos corações de muitos.