Estrelas "A droga roubou-lhe a alma". Andreia Rodrigues relata o dia em que soube da morte do pai e o medo que este tivesse partido na solidão
Desde os 11 anos de idade que Andreia Rodrigues (41) foi obrigada a lidar com a adição do pai às drogas. No entanto, nem todas as memórias que tem do progenitor são más. Apesar do grave problema contra o qual tentava batalhar, Andreia garante que o pai sempre foi um homem interessantíssimo. "O meu pai até ao fim e nesta fase final estávamos mais à distância, havia momentos em que era ele, e continuava a ser inspirador, mas a droga roubou-lhe alma", disse numa recente entrevista a Júlia Pinheiro onde, pela primeira vez, abriu o seu coração sobre tudo o que sente em relação ao pai.
A adição foi um grande entrave no relacionamento que, ano após anos, tentou construir com o pai. Ao longo desta batalha, houve um misto de sentimentos, aproximações e afastamentos. Andreia recorda a última luta do progenitor. "Há dois anos o meu pai, teve um problema de saúde grande, foi internado, com risco de septicemia, foi ostomizado, e nesse processo eu estava de férias com o Daniel e o meu primo liga-me a dar o anúncio do internamento. Na altura, ia falando, mas já não estava fisicamente com ele há algum tempo. Foi um choque, as marcas estavam lá, continuava a consumir, mas lembro-me de lhe dizer: 'A vida deu-te mais uma oportunidade, aproveita! Não sejas parvo", contou.
Mais uma vez, a apresentadora da SIC preparava-se para ter uma desilusão. "Há um dia em que o meu pai deixa de me atender o telefone. Ligo para o hospital e dizem-me que ele fugiu, sem alta nem nada. (…) Mais uma vez ele não conseguiu e ali acho que tive consciência disso e apaziguei-me com essa ideia, de que o ia perder assim. Acima de tudo, fica a saudade daquilo que não foi vivido, a saudade do futuro. Acho que são essas as saudades que doem mais. Aí, comecei a fazer esse luto, já não era possível ter o meu pai como ele era."
"Senti paz, tinha um pânico enorme que ele morresse sozinho. Sei que isso não aconteceu, ele não estava sozinho. Estavam algumas pessoas próximas dele"
Até que um dia recebe a derradeira chamada, vinda de um primo, no verão de 2024. "Quando ouvi a chamada, foi um primo meu que me ligou. E ele só me disse: 'Andreia'. E eu disse: 'Foi o meu pai'. Ele confirmou", começa por relatar. "É um misto de emoções. Ele fez as suas escolhas, ou as que conseguiu fazer. Senti paz, tinha um pânico enorme de que ele morresse sozinho. Sei que isso não aconteceu, ele não estava sozinho. Estavam algumas pessoas próximas dele. No dia do funeral, juntámo-nos todos e estivemos a contar as histórias. Ele tinha uma capacidade extraordinária de fazer os outros ir ao encontro daquilo que ele queria."