Estrelas "É um medo da morte". Dalila Carmo fala pela primeira vez de condição que a deixou em sofrimento durante duas décadas e dos riscos que corre para desfrutar da vida
Dalila Carmo relatou que sofre de epilepsia e que esta condição médica a condicionou durante duas décadas com medo das consequências de um ataque, que se manifestou pela primeira vez durante uma peça de teatro, levando-a inclusive a ter receio de aceitar convites. A revelação foi feita no podcast 'Fala com Ela', de Inês Meneses, na Antena 1.
"Eu desmaiei em palco e isso foi um episódio muito traumático que de certa forma condicionou a minha relação com o teatro, que me obrigou a doseá-la e faseá-la e sobretudo a fazê-lo rodeada apenas por pessoas de quem me sinto próxima e de quem não tenho um sentimento de culpa, porque vem de uma condição médica crónica", começou por contar a atriz de 51 anos.
"Isto foi no ano 2000 ou 2001 e só há cinco ou seis anos, depois do 'Noite de Estreia' [em 2021], é que comecei a perceber que estava tudo mais ou menos controlado, mas o trauma e o medo de que voltasse a acontecer me impediu de fazer muitos projetos", continuou, acrescentando: "Fiquei mesmo sem chão, com um sentimento de impotência e medo enorme. É terrível de repente sentirmos o corpo a perder as forças, a pressão arterial vai a pontos muito baixos e ficamos às portas da morte, porque são síncopes, é um medo da morte. À medida que estes episódios foram acontecendo noutras circunstâncias, aprendi a relativizar."
"Estes episódios acontecem porque tenho epilepsia. É a primeira vez que o estou a dizer. É uma coisa que condiciona, porque limita imensa coisa do ponto de vista cognitivo e das emoções, da capacidade de trabalho. É preciso tomarem-se opções e já percebi que não posso fazer uma máquina, não posso fazer duas e três coisas ao mesmo tempo e tenho de parar. Tenho pena de não ter força física e mental para não produzir mais, mas não consigo", elaborou a estrela de 'A Fazenda'.
Dalila Carmo explica ainda que este é um contexto que a leva a que seja imperativo ter acompanhamento médico constante: "É difícil falar sobre isto. (...) Eu descobri a epilepsia depois desse espetáculo [do desmaio]. É evidente que há um trabalho a fazer, porque passamos a saber quais as nossas limitações. Quando eu vou de viagem, o meu neurologista leva as mãos à cabeça: fica com medo que tenha um episódio sozinha."
"Nunca aconteceu, mas tenho sempre esta soberba de achar que posso resolver as coisas sozinha porque já sei os exercícios, mas o médico sempre me disse: até agora tiveste essa premonição, sabes que vai acontecer e tens uns segundos para reagir, mas é uma condição que não sabemos o que pode desencadear, pode haver um dia em que não haja aviso prévio... eu nunca sei. A medicina não sabe explicar", sublinhou.
"Tenho sempre esta soberba de achar que posso resolver as coisas sozinha, mas o médico sempre me disse: até agora tiveste essa premonição, mas (...) pode haver um dia em que não haja aviso prévio"
Ainda assim, a artista realça que baixou ligeiramente as defesas para poder desfrutar da sua vida: "Basicamente, não posso deixar de viver e de fazer as coisas, é só estar consciente, porque, a partir do momento que sabemos das nossas condições e limites, é muito mais fácil procurar as ferramentas, trabalhar nelas. Por um lado ajuda a relativizar e a termos conhecimento do nosso corpo e da nossa cabeça."
"É importante podermos falar sobre isto, porque é importante que as pessoas que estejam connosco percebam e saibam como agir"
Por isso mesmo, não deixa de destacar a necessidade de consciencialização sobre esta condição, que, segundo diz, fê-la temer perder trabalho: "É importante podermos falar sobre isto, porque é importante que as pessoas que estejam connosco percebam e saibam como agir. Durante muito tempo foi um tabu, toda a gente me dizia que não podia falar sobre isto porque me podia prejudicar e deixar sem trabalho. Sempre vivi muito encolhida por esta condição: só agora é que estou a aprender a desconstruir, a dizer que tenho isto e 'desculpem, não consigo fazer mais'."
Por fim, assinala referindo-se aos seus momentos de viagem: "Quando estou nos confins do mundo, estou em contacto com um médico que me diga o que não posso fazer, porque gosto de beber o meu copo de vinho e o meu café, mas tenho tudo extremamente doseado, controlado e compartimentado na minha vida."